sábado, 28 de dezembro de 2013

"Se eu fosse a gente..."



Em 2001, eu conheci e passei a fazer parte de um grupo de amigos que seriam daqueles pra vida toda. A gente passava a maior parte do tempo junto, rindo de bobagens e fazendo planos incabíveis pro futuro, enquanto os últimos anos de adolescência permitiam o luxo. Eu me lembro de repetir para mim mesmo o quanto era sortudo de tê-los como amigos. De fato, eu temia que um dia Carla, Fernanda e André se dessem conta de que eu nem era de tanto valor pro grupo (mas eu era).

Ah, mas é imbatível o golpe da mudança ao curso de doze anos... O conselho que ouvi, ainda criança, de uma tia, de que adiasse virar adulto por quanto fosse possível, tomara sentido muito claro. Chega a hora em que a amizade torna-se empacada pelos compromissos distintos e inerentes à idade, hoje madura demais para nos permitir encontros naquela salinha secreta, onde ríamos durante o recreio e prolongávamos as risadas, matando aula; ou qualquer outro evento que nos tornava personagens de um filme de Sessão da Tarde. E, com a evolução dos anos, construímos nossa dinâmica própria, digna de série de tevê - e daquelas bem roteirizadas.

Mas a mudança é mesmo imbatível. Hoje, sinto que somos como o elenco de uma série que há muito se encerrou. Ou seja, cada ator segue com projetos diferentes e a amizade sofre a falta de tempo; de vez em quando, eles se esbarram, e o carinho permanece, porém a ausência pesa. O que resta de nós é um punhado sem-fim de recordações e uma saudade aguda de um grupo que compartilhava momentos. Dói muito reconhecer que não somos os mesmos, e mais ainda que esses, como outros amigos queridos de outrora, hoje eu não conheço mais.

E isso explica o que tem sido um dos maiores impasses na minha fase atual. Qualquer habilidade que eu já tenha tido de cultivar amizades hoje se encontra tão despedaçada dentro de mim, que eu não sei mais fazer amigos. Não só me sinto desinteressante, como acredito não ter o que oferecer a alguém. Eu desaprendi a ser um bom amigo e a me dividir com outros, e tenho medo de nunca mais saber. Essa realidade é possivelmente um dos meus maiores temores nessa vida, porque o valor que em geral se é empregado a família, eu dedico majoritariamente aos meus amigos. Sem eles, me sobra pouco mais que as roupas do corpo.

2 comentários:

  1. Gostei da figura de linguagem - amigos que interpretavam uma série e a séria acabou - tambem me sinto assim, mas tb sinto que como vc não sou muito bom em cultivar amizades, talvez porque sempre investi muito em relacionamentos... deve ser isto!

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  2. @HHP eu estava assistando a essa entrevista que eu linkei, com o elenco de Will & Grace, e percebi que é o retrato da minha situação e do quão triste é o afastamento natural que vem com a idade e os compromissos. E como ele é agravado com a distância de meio-mundo, no meu caso.

    [j]

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