quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Não tenho estrutura pra isso

Eu sempre soube que não quero ter filhos, mas costumava achar que o motivo era simplesmente falta de ligação paterna, de instinto pra coisa. Acho criança bonitinho, fofinho, engraçadinho, mas dá 20 minutos e eu cansei, devolvo pra mãe. Mais ou menos assim, um pouco menos apático. Há quase 3 meses eu ganhei minha primeira sobrinha, e o sentimento se mantém. Acho linda, brinco com ela, mas meu mundinho me chama de volta depois de um tempo. E é assim.


 Aí tem minhas cachorras. Que são minhas filhas, no fim das contas. E fica aqui o paradoxo: delas eu não desgrudo, delas eu sinto falta quando tô longe. Dois meses atrás uma amiga da minha mãe passou com o carro na patinha traseira da Jenny, o ossou quebrou e lá foi ela pro veterinário. Teve que passar por uma cirurgia, colocar pino na pata; depois de um mês, ela começou a rejeitar o pino, que teve que ser retirado... mais um mês internada se recuperando, com tala e etc. Voltou pra casa nesse sábado. Quando vi seu estado, quase desabei, mas me contive. Magra, mais que cachorro de rua, os pêlos caindo nos cotovelos e ao redor dos olhos. A pata traseira, ela não consegue apoiar no chão ainda, e por isso anda com o quadril suspenso.

Eu olhei pra aquela cena, pensando se algum dia ela voltaria ao normal. Imaginava a dor da minha prima quando minha tia sofreu um AVC e voltou pra casa num estado tão debilitado que todos a tratavam como se fosse um bebê. A propósito, a título de registro, se um dia eu ficar em estado vegetativo, sobrevivendo à base de aparelhos, por favor comunique à minha mãe que me desligue.

A questão é que eu jamais conseguiria ser pai, porque não tenho talento nem força pra passar por esse tipo de situação com uma criaturinha que dependa tanto de mim. Porque quando olhei pra ela se esforçando pra lidar com a pata prejudicada, eu não sentia primeiramente aquela esperança paternal de que minha 'cria' melhorasse; o que eu sentia mais forte era uma vontade de não existir e não ter que passar por essa tristeza - porque pra mim seria melhor.

Se isso não é egoísmo, eu entendi errado. E egoísmo não combina com ser pai.

7 comentários:

  1. Eu tb não quero ser pai. Gosto de visitar meus sobrinhos e vê-los cada vez mais lindos, mas ter o poder de ir embora a hora que eu quiser.

    Se fgor assim, tb sou egoísta.

    bj

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  2. Reza a lenda que quando a gente se torna pai, algumas alterações hormonais ocorrem que deixam a gente mais moles e superprotetores...

    Ou será que é só com as mães? Hum...

    Beijos Joe!

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  3. a paternidade é investimento de risco. Vc pode perder muito mas pode ganhar tb.

    antes de achar q vc não está preparado para esse sofrimento, lembre-se q vc tb teria grandes alegrias.

    bjão

    PS: só uma informação: aproveita q estou no meu período fértil.

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  4. eu nunca pensei em ser pai pois sei q, independente de minha orientação sexual, eu nunca me vi com aptidões para assumir tamanha responsabilidade ...

    bjux

    ;-)

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  5. Concordo com o Paulo em relação a ter filhos. Muita responsabilidade para o resto da vida. Com certeza não nasci para isso.
    Joe, de acordo com a psicologia, tudo que o ser humano faz tem (no fundo) uma necessidade egoísta a ser satisfeita. Por exemplo, conseguimos amígos para não nos sentirmos sós, procuramos sexo para se sentir desejados, temos filhos para "viver para sempre". Então não se martirize se identificar uma pensamento egoísta seu em relação a algo.

    Estou torcendo pela Jenny.

    Abraço,
    Daniel de Brasília

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  6. Engraçado. Sempre quis ser pai. Lá no fundo, reside uma vontade de ter um sucessor, alguém para ensinar, alguém para brincar... alguém para me ensinar a ser menos egoísta.

    Mas... enquanto não realizo esse sonho, fico aqui com meus botões, aproveitando meu egocentrismo.

    Abração!

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  7. Achei lindo seu post. So mesmo uma pessoa boa sofreria por um ser tão dependente como um animalzinho atropelado.
    A propósito, tenho um labrador e não sei de teria estrutura para agüentar ve-lo passando por uma dessas.
    Gui.

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