Certeiro como a lua leva e traz o oceano, também eu vou e volto, à frente e atrás, em ondas. Minhas águas podem secar com o tempo, mas da sua nascente brotam outra vez, numa maré feraz e efervescente.
Há alguns meses venho nadando numa transição mental que agora se materializa visualmente, aqui no digital. Há meses, ouvindo um mar se revelar, e cada onda sua se desfazer à margem; nos olhos cerrados, a brisa compõe uma canção inaudível com o tocar dos cílios, como uma harpa, e dos cabelos longos, pesados de sal e suor, permeados de maresia, a pele, cobreada de sol, reflete o arredor, tanto azul, parece não ter fim de azul!
Das cavernas internas ascendi à leveza nas nuvens do céu. Era de se esperar que eu chegasse até aqui. Peixe que sou, filho da água, banhado e resguardado em sua custódia. Ora, nasci com o Sol na casa de Peixes, pois que hora oportuna para mergulhar nesta mudança.
Pouco é comparável à beleza do tango marítimo, onda que dança contra onda, o vento que sugere ritmo, a lua que rege sua orquestra, a espuma que vibra e aplaude. Ainda assim, tanto se assemelha ao desenrolar da vida, que flui numa direção e nós, noutra; cuja sina nos vem de encontro e nos derruba do eixo, nos revolve sob fardo pesado, nos rouba o ar e nos capota num balé de cambalhotas, mas nunca nos afoga. Não, não há ano que seja bom ou ruim, o tempo não se ocupa com essas coisas. Há, sim, mar alto, de afago e de fúria. Ora estamos em costa, ora em alto-mar.
Sim, estou mesmo em evolução. Com cada caldo que o mar da vida me dá, alcanço mergulhos mais fundos adentro de mim, e quando encontro descanso, eu emerjo, respiro, me recomponho, contemplo o azul que me abrange e nado uma vez mais, surfando por entre a contracorrente.
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