terça-feira, 24 de março de 2015

Eletroencefalograma

Na salinha estreita, a mocinha me pede que deite na maca e passa a me aplicar eletrodos pela extensão do couro cabeludo. Já conectado, ela me instrui que feche os olhos e não me mexa, e em seguida apaga a luz. Como um raio, minha mente, emancipada de mim, dispara a projetar pensamentos costurados de retalhos de memórias do meu professor, mas aqui tecendo novas tramas. Eu, sem entender a providência de tais impulsos – seria efeito dos eletrodos? – apenas cedi; deixei que a mente seguisse autônoma. Aquela nova narrativa ia surgindo na tela da minha imaginação como uma versão contemporânea das estórias que eu criava nos meus anos de moleque, embriagado de desejos adolescentes pelo professor – meu storytelling era limitado, mas meu seriado imaginário me permitia amá-lo e ser amado em retorno, realmente me enchia.

Agora aqui, na salinha escura, retomo a série com um reencontro 15 anos depois, como minha mente decidiu proceder – nem sei se posso, mas ela sequer me consultou a respeito, pos-se a tricotar cenas e diálogos atrás dos meus olhos fechados. E eu sorri, porque a gente nunca fica velho demais pra sonhar. Penso em começar um roteirozinho.

Um comentário:

  1. Eletroencefalograma fazendo o papel de brainstorm do banho hahaha

    Tudo bem com você Joe? Como foram suas andanças por São Paulo?

    Um beijo!

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