domingo, 24 de agosto de 2008
Pessoa acima da persona
Ainda sobre a peça que vi com minha prima há uma semana, reparei em algo que me chamou a atenção durante o espetáculo. Certeza que todo mundo já presenciou um momento, em uma peça de comédia, em que os atores não resistem à própria piada/graça e acabam rindo em cena, quando aquela risada não fora planejada no roteiro. E é interessante porque nesse momento o público aplaude, como que reconhecesse o esforço do ator em tentar segurar o riso e o aplauso fosse um consolo pela falha. Mas continuei pensando e, na verdade, me parece que aplaudir o ator num momento como esse é dizer "Êh, olha lá, saiu do personagem!"; é como se o espetáculo fosse um desafio ao ator de permanecer por uma hora e meia posto na personalidade de outra pessoa, e a grande graça da história estivesse no deslize. Dá um nó na cabeça isso. Porque durante a peça de comédia existem duas situações principais em que o público aplaude: quando uma piada é extremamente marcante, ou quando o ator não se agüenta e começa a rir no palco. A motivação da platéia em aplaudir durante o espetáculo se dá, ou quando o elenco se supera no fator "graça", ou quando o ator é mais gente e menos personagem - quando ele ri. Não é curiosa a inversão dos propósitos?
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