Essa frase já chega virando mantra na vida de qualquer pessoa que já se desgastou por amor. E foi com ela que nosso já conhecido diretor Arthur Tadeu Curado anunciou a nova montagem de mais um dos seus sucessos, o espetáculo Complexo de Cinderela.
A peça nos mostra duas mulheres comuns, jovens, bonitas, porém complexadas, e que esperam. Sim, é o que Isadora e Beatriz fazem: elas esperam pelo homem ideal. Enquanto isso, relatam histórias, se desesperam, riem, choram, dançam e desenham semelhanças entre os nossos relacionamentos e os de arquétipos de contos de fadas; e, então, esperam um pouco mais por seus príncipes encantados, sempre divididas entre buscar o mundo que há lá fora ou continuar à espreita, com seus sorrisos intactos e incansáveis.
A Isadora é a divertida, desbocada e espirituosa. Em vários momentos, me fez lembrar da Dori de Procurando Nemo; em outros, da Narcisa Tamborindeguy. E a Beatriz é a tímida, neurótica e romântica, com sorriso de Drew Barrymore (normalmente, aquela com que a maioria de nós se identifica mais). Juntas, elas dividem anseios de um futuro incerto e segredos de rolos passados. E fazem rir, muito!
A trilha, como sempre muito bacana, dá início à cena com Stupid girl, do Garbage; ao longo da história, ouvimos algumas outras músicas pop de letras devidamente encaixadas (think about it). O cenário é todo no preto e branco; mais uma vez me permiti supor as intenções do autor, e imaginei que este contraste de P&B pudesse ser uma alusão ao tempo e ao espaço que prendem as duas personagens à espera do amor perfeito. Depois reparei que as cores do vestido das moças também se contrariavam, e agora acredito que o branco e o preto, alternados, sugerem o conflito corrente das personagens como sendo um dilema entre desapegar ou evoluir e permanecer em espera, que existe dentro de todos nós. Afinal, ficar e esperar parece ser tão seguro e correto, mas é quando se deixa essa grande "sala de espera" que corremos o "risco de ser feliz - ao menos, um pouco feliz".
Novamente, o espetáculo termina naquele estilo Arthur Tadeu, conclusivo, mas repare nas reticências; o texto não diz se a pessoa ideal vem ou se jamais virá, mas nos dá o poder de imaginar as possibilidades, do que acontece com uma e do que acontece com a outra. Afinal, no que diz respeito ao tema, a vida é isto: tudo isso já foi dito, nós é que precisamos saber qual voz ouvir e qual caminho seguir.
Por fim, esta é a segunda peça do Arthur que eu vejo, e - como ocorreu na primeira - saí do teatro pensando em voltar. Percebi que não há espetáculo dele a que se assista uma vez só - o cara é uma coisa assim Luis Fernando Veríssimo, enxerga o óbvio que só está lá para poucos.
Agora, dá uma olhada no vídeo da peça e então corre pro Teatro dos Bancários (514 Sul) pra assistir, que só tem mais hoje às 21h e amanhã às 20h.
"Desapega e evolui;
bloqueia e neutraliza;
remaneja, fortalece e
segue em frente!"
Serviço:
Adorei a crítica!
ResponderExcluirArthur é Luis Fernando, gente!
;)
Como psicóloga e alguém que nunca perdeu uma das peças do Arthur, concordo com tudo o que foi dito na crítica. Muitas mulheres precisariam ver essa peça e realmente pensar nesse dilema...
ResponderExcluirO espetáculo é excelente! Impossível não se reconhecer muito ou até demais!
ResponderExcluirCaio
Adorei a crítica!
ResponderExcluirÓtimo texto, garoto. Eu vi o espetáculo no Teatro Goldoni e foi impressionante observar a reação das mulheres: risos, suspiros, choro... O Arthur provoca em sua plateia muitas e diversas sensações: ele comunica muitíssimo bem com a sua geração. Acredito que ele possa ser uma das vozes representativas no teatro brasileiro em breve.
ResponderExcluirAbraços,
Paulo C. France
O texto está ótimo! Maravilha! A peça do Arthur é mesmo excelente! Eu já vi umas 3 versões diferentes e é sempre muito divertido.
ResponderExcluirAchei digno!
ResponderExcluir