segunda-feira, 20 de junho de 2011

"Um dia, eu ainda vou fazer sentido"


Mais uma vez, falo de Arthur Tadeu Curado e de seu trabalho de pérolas e diamantes. Mais uma vez ele. Fui convidado pelo próprio para assistir ao novo espetáculo, veja só, toda uma honra. Em Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite, o Arthur empenha seu talento na direção e na adaptação do livro de Fal Azevedo para o teatro, dividindo o texto com Gabriela Braga e Thaís Strieder. Esta, por sua vez, é a estrela da peça e nos revela a história de Alma, uma artista solitária e sofrida desta vida.

Alma parece existir sem propósito; uma daquelas vidas que começam a passar e não param mais. Sonha em viajar para a Espanha, mas a vontade se esvai quando conclui que viajar é bom, ruim é não ter para onde voltar, nem porquê. Uma casa na praia deixada de herança então lhe basta - não é como se lhe houvessem tantas alternativas. E assim ela leva uma vida quieta, silenciosa. A melhor relação é com seu amigo, o zelador que ajuda com o cuido da casa. É a melhor porque, por natureza, não goza de muitas intimidades. Assim convém, assim satisfaz. Traços da conduta de quem tem por costume ser e estar sozinho. Quando se vive só por tanto tempo, aquele prazer de fazer algo que só se faz quando ninguém está por perto vira banal. Não que, por isso, vá perder a graça, diga-se. Mas passa a ser o modus operandi por excelência.

Ela adorava beber; bebia para amortecer, "para preencher os vazios, até que a felicidade fosse inescapável". Este e outros prazeres tiveram de ser cortados, mas, ainda assim, acreditava no direito de fazer certas coisas inpensadas pelo bem de evitar transtornos - na cabeça, na vida. "Tem horas que eu mereço uma empadinha. E mais uma Fanta Uva", ela se defende. Com toda razão.

Mas aí o universo sempre tem seus meios de interferir na nossa dinâmica, e uma surpresa mexe com a alma da Alma, ainda que com efeito tardio. Eis que ela se depara cometendo os erros da mãe, e a consequência de suas faltas envolve, entre outros fatores, uma dor dilacerante. É neste ponto que ela avisa à plateia que sua história não é um conto de fadas e não tem final feliz. E condiz. Mas eu gosto do que o Arthur disse em seu blog, que "gente como a Alma mostra que há volta, sempre há volta, mesmo que a gente se jogue do parapeito todos os dias, todas as vezes". E é isso mesmo. Gosto também que o espetáculo dura o suficiente; é incrível quanta emoção coube em 1 hora, eu fiquei saciado! É uma emoção dura, penosa, mas eu cheguei a concluir, junto com minha amiga Fernanda, que raramente me identifiquei tanto com um personagem como aqui, em várias passagens do texto. E por isso a frase no título do post, conforto da Alma, é também meu suspiro de esperança.


Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite fica em cartaz até 26 de junho no teatro do Brasília Shopping, e eu sinto que fui tão raso, falei tão pouco (tô na pior, porra), que só me resta dizer: tem que ir ver. Sexta e sábado às 21h, domingo às 19h. Ingressos a R$ 10,00 a meia entrada, de graça.


Ficha técnica e tudo mais no site Minúsculos Assassinatos.
Livro da Fal Azevedo na Livraria Cultura.

6 comentários:

  1. Não sei se há previsão da peça ir para SP. Uma pena, eu na verdade acho que todo espetáculo que tem o Arthur envolvido devia viajar o Brasil.

    [j]

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  2. Deveria mesmo viajar o Brasil. Ir a sampa, vir ao Rio. Como não pude ir a Brasília (tb fui convidado, Joe. Não pelo Curado, mas fui convidado), seria a oportunidade.
    #ficaopedido

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  3. Gente, nossa vontade é sim viajar muito com o trabalho. Queremos amadurecer um pouco mais o resultado, fazer alguns festivais talvez e aí a partir daí tentar negociar a nossa ida a São Paulo.
    Beijos

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