terça-feira, 2 de agosto de 2016

Not so much LOOKING anymore

O recém-lançado Looking: The Movie, produzido no formato 'filme para TV' como oferta final de misericórida da HBO, veio dar fim à história da série do canal, desenvolvida com maestria ao longo de duas temporadas, porém cancelada por baixa audiência.

Eu não me interessei pela série em seu primeiro ano – história e personagens pareciam não me convencer, ainda assim persisti assistindo, ciente do enriquecimento do universo gay que a produção trazia embutido em sua trama. Contudo, com o primeiro episódio da segunda temporada, me rendi de vez. A série era sim preciosa de todo.

Semanas atrás, ao que se aproximava a estreia do capítulo final, me pus a reassistir a série completa. Perpassar toda a história uma vez mais acabou sendo ainda mais comovente. Desta vez, estava mais maduro e preparado para a experiência. Em certas cenas, eu chegava a pausar a ação, porque as atuações eram muito ricas de realismo; maravilhado, eu me fartava de toda aquela emoção pura na tela. Os roteiros são, sem exceção, concebidos com primor e dão fluência ao programa, e a direção, também cheia de acertos, é sempre muito sensível. Outra peculiaridade é o clima azulado e dessaturado que a coloração final confere ao todo da série, que demais me agrada aos olhos.

O filme me desceu com dificuldade – não que falte em qualidade, pelo contrário: o longa é igualmente delicioso de consumir e faz juz à alma da série, trazendo sim um fim satisfatório; meu pesar foi em me desligar daqueles personagens. Minha dificuldade real de desapegar me abateu em cena ou outra – a mais forte delas sendo o encontro final entre Patrick e Kevin. Eu traguei aquela cena inteira a seco, e por dentro ela me desceu, crua, rasgando até as entranhas. Doeu, porque resgatou gostos do meu próprio passado, deixando uma amargura na boca. A tristeza doce da cena invocou nostalgia e muitas lágrimas.

Por falar em Pat & Kev, a relação dos dois ao longo da série era a que me desmantelava. Era a que mais dependia de perspectivas. Eu jamais fui capaz de incriminar um ou o outro, por mais inconvenientes que fossem suas ações – novamente, porque aquela situação era muito próxima do possível e, portanto, eu não ousaria jogar pedra. No começo deste ano, eu mesmo comecei (não de propósito) um caso com um homem noivo. De cara, eu provei ter o desprendimento para lidar com a relação, que pedia o fator "casual": não poderia haver envolvimento substancial. Claro, essas coisas não se controla, e logo eu me vi despertar, como o Patrick, e entender que aquilo não poderia avançar mais. Seria errado porque era mesmo errado, mas foi certo enquanto durou. Porque sim, eu acho.

Revendo a série, pude identificar o quanto de mim há no personagem do Pat. Chega a assustar o quão siameses são os vacilos dele e os meus. Mas quem mais vai me fazer falta é a Doris. Essa sim, eu queria pra vida, melhor amiga; ferrada, mas perseverante – e muito, muito sagaz.

Escuta... isso não dura pra sempre. O que você está sentindo.
Eu sei bem como é se sentir assim.
..
Essa angústia toda, um dia passa. Sério.
Se você quiser, ela passa. Tá bem?

Doris lives forever

2 comentários:

  1. Eu me identifiquei com o Patrick desde o início da série, muitas pessoas criticaram, mas a série me ganhou desde o início e ainda no domingo comentava que até as "novas" questões do Patrick batiam com as minhas também.

    Adorei o filme e partilho do seu sentimento, por mais que nãos seja o filme da minha vida, gostei da forma como as coisas foram amarradas e da mesma forma que a segunda temporada acabou com aquele final maravilhoso, o final do filme me deixou igualmente tocado e já saudoso por não "encontrá-los" mais.

    Muito bacana e forte aquele dialogo entre a Doris e o Paddy! (aliás tem muitos diálogos para serem pensados e repensados... Aquela conversa com o Kevin tb)..

    Até! :)

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  2. @Latinha: Pois é, eu já tive uma dificuldade de gostar de início, acho que estava em uma fase ruim.
    Assistir novamente, com outros olhos, foi muito especial. A série realmente é muito bem contada em todos os aspectos, dos mais técnicos à história propriamente. Também gostei da chance de ter um final com o filme. Mas como você, com um leve aperto de saber que não tem mais.

    Agora a cena com o Kevin sempre vai me derrubar, ela fala muito direta e pessoalmente comigo.
    Valeu por compartilhar sua opinião!

    [ j ]

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