terça-feira, 12 de maio de 2020

apokalupsis



Eu me perdi nos contornos e retornos do trajeto enquanto buscava encontrar a mim mesmo. Como pode tanto oito, tanta volta atrás da própria cauda, pra acabar sentando no mesmo lugar. Mas não é o mesmo lugar, na verdade, seria injusto. O lugar não é o mesmo, e certamente eu tampouco. Foi o tempo que mudou, e tudo em volta que não é o mesmo, e o clima que escureceu. Muito antes deste breu de pandemia, eu já antecipava o meu apocalipse pessoal, cruzando trechos em mim mesmo, andarilho, a fim de chegar a algum lugar, não qualquer lugar. E buscando me entender em pensamentos reciclados, fui deixando de semear as palavras onde elas melhor brotam e frutificam. Eu deixei de escrever e foi assim que fui me perdendo ao tentar me achar. Enquanto não vinham aos dedos as palavras, eu guardei as mãos nos bolsos; ocasionalmente, joguei as mãos ao ar, como sem entender. Mas fui eu quem deixou a vida entrar na frente, e me afastar do rumo, me sugar num ciclone doido. Talvez devesse ter forçado sim, aquele primeiro sopro de vida, e deixar os brotos tomarem seu curso. Mas o que é pra ser, é. Pra isso que são as coincidências, eu penso. Pra botar as pequenas peças no lugar, ajustar os desajustes. Foram os acasos inocentes que me fizeram sentar aqui, várias voltas-atrás-do-rabo depois, e enxergar mais claro. As voltas que me fizeram voltar.

Não se sabe se 2020 traz mesmo sinais do Apocalipse, embora pareça escrever seus próprios capítulos da tragédia do fim. Mas este, aqui, talvez seja o meu próprio Livro das Revelações; é aqui que eu posso abrir os olhos e ver, aquietar e compreender, respirar, refletir. E este, hoje, é o meu tempo, minha vez, meu agora. É hora de voltar.


https://youtu.be/0Q14rHLvMco?t=43

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