A premissa do Tinder, de início, parece funcionar com êxito: a chance ao flerte é concedida se houver –e somente se houver– o interesse mútuo. Mas a prática do Tinder vira um jogo que acaba assim que começa, porque perde a graça pra pelo menos um dos dois na partida.
O objetivo do jogo é garantir que a pessoa que alimenta seus interesses também lhe deseje em retorno, anunciar que quer, e aguardar. No entanto, é uma tática infrutífera: a conquista da vontade alheia recíproca anuncia o fim do jogo. Ganhei. Próximo!
Jogar Tinder é como jogar PacMan, quase, no sentido de que você busca comer vitórias sem parar. Mas o coração verde piscando na tela, que deveria significar o início de uma troca, uma conversa, flerte, descoberta e, possivelmente, o encontro em pessoa, encerra tudo por ali. A partir do momento do match, a queda da importância é vertiginosa. A dose já foi injetada ao ego.
Ninguém quer conversar, e assim os diálogos morrem em vão, fáticos, largados nas primícias, um cemitério infindo de "oi tudo bens", onde o interesse rapidamente é encerrado, mas diferentemente de como ele começa, aqui não há anúncio do seu fim. Ninguém quer expressar com palavras o "não quero", apenas com a ausência delas. Eu só queria saber se você, esta pessoa que eu curti, me daria like também.
O pior é ficar ali, na sala branca, sozinho, retornando ao assunto abortado, tentando entender o que houve, o que causou a desconexão do outro do papo que fluía tranquilo, da troca cordial, que certeiramente se interrompe, recém-parida. Para os que sofrem de baixa autoestima, esse exercício é mais tóxico e danoso do que as regras do jogo costumam advertir.
Tinder é horrível. E, tal qual um jogo, é viciante. Deu match aqui? Ótimo. Tá pouco, mais um.
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