segunda-feira, 3 de maio de 2021

Mas o tempo não espera

Mais do que nunca, venho fazendo uso rotineiro de um poderoso coquetel cuja receita leva terapia, meditação, conselhos de amigos, sabedoria dos anos e conteúdo de autoajuda. É uma mistura potente o bastante para, no meio de uma pandemia trágica e prolongada, me perguntarem "E aí, como você tá bb?" e da minha boca sair um sincero "Tô bem, menina?". No entanto, nesses últimos dias senti um declive na minha energia; mesmo como essa vitamina toda, os ânimos estão abalados – e não consegui ainda pôr o dedo no motivo exato (se é que tem um só), mas sigo observando sem julgar, e rumando adiante, eu e minha nuvem carregada.

Eu ando tão disperso em grandes buscas pessoais, ocupado em fugir da realidade cruel que nos devasta, que deixei que três meses se passassem sem qualquer mensagem ou resposta de um amigo querido, com quem apenas recentemente reavi contato. Ele, ali por fevereiro, iniciava um novo emprego depois de um robusto hiato, e passava a sofrer alguns sintomas de complicações respiratórias, possivelmente efeitos remanescentes da COVID que pegara meses antes, além disso é enrolado por natureza para responder, e toda essa junção me fez achar que "por isso, ele não tá me respondendo". E só neste começo de maio me toquei que já se foram três meses – e ele não é disso.

Eu não quero dizer, mas eu preciso dizer: eu acho que perdi um amigo (aqui as letras embaçam entre a tela do computador e as minhas córneas). O primeiro de maio sempre me lembra da incrível amiga Angel, que lá em 2017 se foi, e, hoje, cá me encontro, nada pronto pra perder outro amigo querido, generoso, cheio de amor e beleza pra compartilhar (não que tal prontidão exista). Eu não tenho outro contato dele ou amigo em comum, então se ele não me responde mensagem ou não me atende ligação, não tenho muito como confirmar seu status. O que me resta é correr até a portaria do seu apartamento e investigar. Tocar o interfone agarrado à esperança de que do outro lado me rebata um "Pronto?".

Mas é inevitável o sentimento de que falhei profundamente em esperar tanto tempo para checar mais afundo. Na época, tentávamos combinar um encontrinho, trocar conversa e afeto, tomar cházinho e dar risada. Não aceito que fui arrastando pra depois, tal como fiz com a Angel, contando com o amanhã sem nem saber do hoje; e agora pode ser tarde demais. É preciso aceitar os comandos da vida, mas também é preciso aprender, e não largar o que/quem importa guardado para mais tarde.

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