Por volta ali dos doze anos, eu já entendia que era uma criança diferente e sentia os sinais do ostracismo que sofreria dentro de casa, derivado do distanciamento físico e emocional de um pai e dois irmãos que não sabiam lidar com minha personalidade divergente. Aos doze, eu beirava uma adolescência muito solitária, logo, tecer meu próprio universo foi meu recurso e minha salvação.
Peguei um caderno, embelezei a capa, lancei um cadeado e passei a registrar meus pensamentos, que, em sua maioria, tratavam dos garotos personagens das minhas paixões múltiplas, e dele - o professor de Educação Física por quem nutri um amor juvenil. Eu não tinha amigos, e jamais poderia dividir com outrem o que eu sentia por dentro; precisava, de alguma forma, trazer à tona tudo aquilo, o segredo era o único veículo possível, e aquele diário lacrado, a única mídia ao meu alcance.
Esses dias me peguei relembrando dessa época e me ocorreu que foi quando desenvolvi o hábito de guardar registro das coisas, fosse por memento ou por objetos imbuídos de significados e lembranças. Nada foi capaz de me tirar o registro ou o registrado. Exceto em um caso.
Quando entrei na igreja em 2005, pela segunda vez, fui manipulado a queimar e me desfazer de tudo do meu passado que não fizesse "parte do plano de vida que deus tinha para mim", e, uma vez parte da seita, aceitei sofrer o crime velado de coerção e queimei meus pertences: os CDs que eu havia conquistado com o salário do meu trabalho, as revistas de nu masculino, outros itens que traziam memórias "impuras", e - certamente - meus diários da adolescência. Tudo se desfez em cinzas e pó numa grande fogueira, e assim os registros de uma parcela da minha vida foram apagados para sempre. Mas não se me apagaram seus eventos, que isso ninguém me roubará. Aquela noite remonta ao maior arrependimento da minha vida, que eu daria um mundo para poder voltar no tempo e consertar. Contudo, um único pedaço da minha intimidade salvou-se do atentado, e sobrevive até hoje. Não lembro ao certo por que não levei também este ao fogo, só sei que, gratamente, o fiz. Meu primeiro diário segue comigo, material e precioso.
E em 2008, já familiarizado com a rede social dos blogs, dei luz a este espaço, meu registro, meu diário, minha caixa de cartas, tão querido, parceiro, companheiro de vida. Este blog sou eu, e, hoje, completa 16 anos e 3 semanas (é, não consegui me organizar para registrar o aniversário no dia 08/08, como esperado 😅). Sou feliz demais por tudo que tenho salvo aqui, tão bem organizado e acessível; feliz pelo hábito de escrever, registrar, anotar, compartilhar, guardar - e, com isso, mudar, crescer, maturar. Mudança é chave, e este acervo, a que tenho a chance fortuita de recorrer sempre que quero, é minha valiosa herança. Este diário aqui é à prova de fogo, e segue comigo até o fim.
Feliz aniversário, Dear Benin! Feliz dezesseis anos!
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