quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Meu primeiro amor

Durante minha adolescência, eu naturalmente desenvolvi o costume de criar histórias com roteiros e seqüência, tudo dentro da minha cabeça. Não tinha com quem conversar sobre minhas paixões e, talvez por isso, passei a inventar verdadeiros seriados - para melhor entender o que se passava, e para me dar a chance de viver, de alguma forma, aqueles amores que na vida real eu não podia ter.


Isles, Professor

O primeiro homem que eu amei de verdade foi meu professor de Educação Física; de repente, a aula que eu mais detestava transformara-se na mais esperada da semana, unicamente pela chance de vê-lo - não importando quantos polichinelos e flexões de braço eu tivesse que executar naqueles 45 minutos sagrados. O ano era 1999, e eu estava na sexta série. Com apenas doze anos de idade, fui capaz de devotar toda minha paixão infantil a um homem que, se dissesse meu nome, era para marcar a presença na chamada e, se falasse comigo, era para me escalar no time A ou B da partida de basquete. Um pesadelo jogar basquete com todos os outros meninos da turma - projetos de machinhos. Mas ainda assim, era o melhor momento da minha semana! Lembro o quanto era obcecado por ele, a ponto de catalogar toda e qualquer ocorrência, como: quando ele me cumprimentava, quando o via passando pela escola com seus shorts curtos e suas pernas fartas de fora, quando o encontrava na rua andando de bicicleta; o dia em que fez frio e ele foi de calça de moletom, o dia em que descobri onde ele morava e qual era seu carro (em cujo retrovisor deixei um bilhete anônimo declarando meu amor). Tudo isso era relatado no meu querido diário, no qual escrevia tremendo, mal cabendo em mim de tanta alegria.

Foi ele o protagonista do meu primeiro seriado imaginário, que durou dois anos. Eu me lembro do series finale: não terminamos a série juntos - ele tinha seu novo namorado, e eu, o meu. Esse final de história marcou o momento em que eu muito maduro dava um fim oficial ao meu amor por ele na vida real, em novembro de 2000, quando decidi seguir com a minha vida. Foi-se uma era - e eu ainda tinha 13 anos.

Bons tempos. Claro que depois dele vieram muitos outros, com seus respectivos seriados: o colega do ônibus escolar, o vendedor da loja do shopping, o sujeito do caixa do banco, o primo mais velho, o cara da padaria... Mas essas são outras histórias.
Acho que nunca deixei de roteirizar relações na mente; idealizar. Confesso que não ficou exatamente mais fácil... A técnica mudou - já não mais monto histórias em sequência, mas a atividade permanece, em sua essência. Porém, mais parece repetir erros mesmos do que manter velhos hábitos. A diferença é que hoje eu posso viver algumas das cenas que antes só existiam na imaginação. Ainda assim, era quando eu criava situações na minha cabeça que elas tinham fins melhores. Como eu quisesse. Como eu queria.


Continua...

10 comentários:

  1. Já imaginou se você o reencontra depois de velho e ele lhe confessa que sentia um amor tremendo por aquele garotinho de 12 anos?
    Muque de Peão

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  2. ai Luciano, nem em fale isso. Não posso imaginar, para não dar início a outra série - ou ao remake desta. hehe

    mas olha, um sonho, viu. não custa sonhar.
    beijo

    [j]

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  3. Olha, eu também faço muito isso. Só que as minhas histórias, eu sempre construo (sim, presente) antes de dormir. Lot's of imaginary lovers. As vezes meus seriados chegam até a ter beijo em travesseiro e sessão de reprise, de tanto que eu chego no mesmo ponto e durmo sem conseguir dar continuidade hahaha

    Eu acho super normal.

    Beijo Joe!

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  4. Naquela época, eu tinha medo até de imaginar o meu amor por outro homem. Tudo ficava no "isso não pode acontecer". Depois que me assumi, o amor por aquele já tinha voado.

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  5. Aiai... amores...

    Poderei ter 90 anos, e acho que nunca vou saber direito como é que o amor funciona.

    Mas morrerei tentando.

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  6. com professor não mas com colegas de classe sim.
    lá pela quinta séria tinha um garoto na minha classe que eu 'platonava' e virou inspiração pra um conto...
    nunca mais o vi, deve ter casado e embagulhado...

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  7. vc desde criancinha já tinha tendência a ser stalker ;)

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  8. Aos 13 anos, me apaixonei pelo meu professor de inglês.
    Branquinho, peludinho, de óculos e tímido. Interessante perceber que até hoje é o tipo de homem que me atrai.

    Daniel de Brasília

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  9. Muito legal isso que você falou.

    Ah, se fosse lembrar de todos...

    Minha primeira paixão platônica rolou antes dos quatro anos. Claro que não havia desejo sexual e nem eu sabia que sentimento era aquilo, nem que aquilo era um sentimento...

    Acho que a vida de todos nós têm disso, um pouco. Especialmente aqueles para quem, como nós, quase todos os amores foram desde sempre proibidos.

    Gostei dos verbos "platonar" e "embagulhar", do comentatista Melo, acima.

    Em tempo. Até hoje continuo com alguma imaginação... Desejo que não seá realizado dá nisso [no meu caso]... Quase sempre...

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  10. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk desculpa.

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Te amo!

    Beta

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