Jim O'Rourke – Viva Forever (Cover)
Voltando de Urubici, cidade pouseira da Serra Catarinense, depois do insucesso da neve que não nevou, porém afortunados com todo o resto de que dispusemos, o Luís me ofereceu um jantar em seu apartamento, no centro de Florianópolis. Compramos ingredientes, ele cozinhou um excelente ratatouille, trocamos fotos da viagem, rimos. Agradeci várias vezes. Chamei um Uber. Meu carro chegou segundos após cruzar o portão do prédio. O vidro desceu, e um sorriso me averiguou: Joe?
Uma vez sentado no banco do passageiro, o Uber dispara a puxar conversa, para lá de amigável. Não era apenas um sorriso, era um Sorrisão que papeava comigo. Contei das aventuras do fim de semana, das belezas da Serra e do acaso, até o Uber tornar a averiguar: Você estava no apartamento do Luís? – não só eram amigos, como ele havia combinado de subir junto para Urubici, mas acabou não dando certo.
Na rápida corrida até o AirBnb onde estava hospedado, falei sobre minha falta de planos para o restante da estadia na Ilha. Ele me olhava nos olhos, o pescoço torcia para mim em 90º, o sorriso lhe cobria toda a extensão do rosto, emoldurado pela barba curta, os olhos amiudados. Havia ali uma energia que rebatia entre nós, que brotava dele e me acalentava todo, e então se arremessava de volta direto ao Sorrisão.
Chegamos ao destino, chequei o nome dele no aplicativo e, nervoso, agradeci: obrigado, Marcos. A gente se fala... eu acho. Aperto de mão. Desci do carro, sem conseguir sair por completo. Meia-volta.
– Me chama pra sair, Marcos.– Anota meu número, ele devolveu de imediato.
Sentei-me novamente, agora de frente para o motorista, e anotei seu telefone. Ele sorriu aquele sorriso a centímetros do meu. Outro aperto de mão, olhares engatados um no do outro, e ele me beijou. Beijos de calor aos poucos transitaram para o território do afeto, e logo éramos duas peças encaixadas – eu, fetal, dentro do abraço dele – e ficamos ali, acoplados. A noite expirava, o cansaço nos consumia, mas não sabíamos como nos soltar. Ficamos de nos ver outra vez.
E nos vimos, outras vezes ainda mais intensas, que certamente narrarei aos detalhes em minhas cartas privadas. Na hora da minha partida, ambos sentimos a ânsia de um tempo a mais, e ele me ajudou a adiar minha passagem para o próximo dia. Aproveitamos as horas extras na companhia um do outro; o tocar incessante, o olhar no olho, o compartilhar de histórias, o beijar quente de afago. Mas eu sabia que, por quantos dias adiasse meu retorno, tudo se tratava de prazo.
UM PUNHADO DO TEMPO, é o que tivemos; um precioso pedaço do prazo maior. Agora há a distância física, e também a distância de tudo aquilo que nos torna separáveis, porém, dentro das distâncias, há o colar das nossas peles e o carinho que foi e permanece, e a memória dos afetos e o desejo de outros próximos, o plano do reencontro. Há o mundo pessoal dele que me falta explorar, e a ele, o meu.
E ainda que isso leve a lugar nenhum, ainda que nada mais se suceda e tudo seja não mais que momentos no tempo que foi e ficou apenas na lembrança, conhecê-lo me fez compreender o quão belo é poder voltar a me abrir e me arriscar; depois de tanto tempo, pude, enfim, deixar alguém entrar e dividir a pessoa bonita e interessante que eu sou. Não é justo manter tudo isso aqui dentro trancado. Abrir-se pode ser algo fantástico e guiar a lugares que você não imaginaria descobrir sozinho. Só é preciso se abrir e permanecer aberto, e ali o fantástico acontece.
O interessante, o belo e a alegria, pode vir de onde menos se espera mesmo. Mas, como vc disse, é preciso ser receptivo à isso !
ResponderExcluirSim, e muitas vezes brota do inesperado mais do que poderia vir do planejado. Minha maior lição aprendida na prática neste ano foi esta: abrir-me, dizer sim, aceitar, tomar para mim o que se oferecer. Parar de pensar demais no "será", no "e se" e apenas aceitar. Claro, que haja prudência, mas que haja receptividade sim!
Excluirabraços, Marcos!
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