Já não sei mais o que sentir.
Quando fazia terapia, aprendi que eu tinha por mania manter um pé no passado e outro no futuro, e o traseiro virado pro presente, como quem só tem os dejetos pra plantar no terreno do agora; esterco. No entanto, esterco, muito embora adubo seja, fruto nenhum dá.
E hoje, que eu mais ou menos vivo no presente, ainda preciso me reportar ao futuro porque é lá que estão os planos que eu daqui começo a costurar, e eu não sei que ponto dar, e a agulha parece cega, e da linha eu perdi a ponta, e a trama, assim que mal começa, se desfaz.
E não há cores, ô mundo, onde estão? Os tons de cinza chumbaram – até os cinzas perderam a graça, e o negro conforto e a alva paz, e os matizes, as cores, sem nuanças. Não há energia, não que a sinta.
E o próprio mundo, oxe, virou foi do avesso, de dentro pra fora, de trás pra frente, de ponta-cabeça e o diabo. Os contextos, todos loucos, e os loucos, que somos nós, perdidos, misturados entre os mais-loucos que ameaçam a lindeza das nossas loucuras. É muita ameaça, loucura como se ouvia dos livros e da História, e que a gente pensou que pra trás havia de ter ficado.
E a chance de visita do desconhecido, do além do infinito, e o mundo inteiro, alheio que circunda lá ademais, lá nos depois que mal nos cabe ver ou compreender. É um mundo todinho de pode-ser que podia mesmo ser e virar e transformar, e a gente jamais, parece, vai saber receber; e, daqui, o que tem, dá um jeito de acabar, que tudo é 'eu, eu, eu'.
A gente não merece o mar; o céu, a abelha, a mulher. Nem a música, a serra, o doce, a chuva e o olhar. Ou o breu, o abraço, o sonho, o conto, a geometria, a luz ou o ar.
Já nem sei mais o que fazer.
É preciso voltar à terapia.
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