...e, falando em Ariana, tava ouvindo o episódio do podcast Las Culturistas em que ela participa, e me peguei pensando muito em We can't be friends. É que no videoclipe, assim como no título do álbum, ela faz referência ao filme cult Brilho eterno de uma mente sem lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004), do gênio Michel Gondry. Aliás, vale registrar que esse é o disco que eu mais ouvi este ano — que conseguiu, por vezes, me retirar do meio do mar do SOS.
Eu passei boa parte deste ano remoendo raiva; em contradição ao que declarei lá em abril, porque não foi fácil me desvencilhar do arrependimento. Neste caso em específico, de uma amizade em particular que, após muita insistência, por fim morreu. Mas não daquele jeito que a gente enterra, chorando, e guarda no peito as memórias boas do que se viveu. Não, essa morreu com raiva. Essa foi cremada, as cinzas lançadas à lata do lixo, para não deixar margem a dúvidas.
A trama de Eternal Sunshine... circunda a tentativa do esquecimento de alguém, o uso de uma tecnologia que limpa a mente das lembranças do outro, como se deletam os dados de um disco de memória. No filme, e no clipe, há titubeio diante do efeito do ato, sem volta. Será que prossigo? Como será viver daqui adiante sem que essa pessoa tenha existido na minha história? É um dilema delicioso de ponderar, principalmente porque, no fim das contas, não existe método que o faça na vida real, então nos resta mesmo lidar.
Eu já trouxe esse tema antes, lembra? Quando me revirava a alma, tentando superar um amor mal destruído, e eu achei que, sim, se me fosse oferecida a técnica, ali mesmo, sem hesitar, eu o apagaria da cabeça. Onze anos depois, e vejo que não. Não abriria mão do que aprendi com tudo aquilo. No entanto, hoje me pego aqui pensando o mesmo, que eu aceitaria destruir todo registro do tempo que gastei com esse amigo que nunca aprendeu a ser amigo. Sim, tempo que gastei, perdi, desperdicei com alguém tão oco e incapaz da reciprocidade de uma relação. Quisera esquecer cada momento, quisera o direito a reembolso de cada minuto, e dar-lhe melhor uso. Mas, sabemos, me resta apenas lidar.
Não, eu me recuso. Não aceito. Sim, eu me arrependo, mas não vou me alimentar de conjectura, que isso não dá sustento. Ainda que tenha jogado minhas pérolas ao porco, o que me importa é o que eu fiz, minha jornada e conduta, e não a do outro. Foi nesse exercício que eu me aprimorei como pessoa, como amigo, eu sim cresci, maturei, é nítido, e isso que conta, e disso me orgulho. Ademais, levo comigo um reforço:
Onde não puderes amar, não te demores.
(Frida Kahlo)
Ponto final. Nova página.
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