...e então há as pontes que precisam ser queimadas - aquela que leva até ele, talvez, a maior delas. Como tentar tocar fogo em concreto com uma caixa de fósforos molhados, demorou demais. Parecia inútil e eu não entendia porquê. Mas agora eu vejo. Foi como um câncer.
Não há muito que se possa fazer para se livrar de um câncer. Você se submete a um tratamento gradual, se sujeita a dores e complicações, revive memórias com saudade, ri com amigos, chora sozinho; você tem esperança, depois você não tem. E, ao findar de um número de etapas, resta não muito mais que esperar. Esperar que o tumor eventualmente morra e se desfaça a nada.
Não há muito que se possa fazer para se livrar de um câncer. Você se submete a um tratamento gradual, se sujeita a dores e complicações, revive memórias com saudade, ri com amigos, chora sozinho; você tem esperança, depois você não tem. E, ao findar de um número de etapas, resta não muito mais que esperar. Esperar que o tumor eventualmente morra e se desfaça a nada.
Todo esse sofrimento arrastado foi o meu tumor se desfazendo. Embora não entendesse o motivo da demora, durante esses dezoito meses eu fiz tudo que pude a meu favor. Aprendi e retive cada lição que me foi possível extrair. Tentei odiar, e então tentei não odiar. Fiz questão de ser o homem adulto que ele não foi e convoquei uma conversa antes da minha partida, porque aquele ponto final era meu e eu precisava dele. Fiz as pazes, dei a segunda chance que todo mundo merece, e a terceira e aí perdi a conta. Sofri os pesares e aprendi, até chegar aonde só me restava esperar. Mesmo sem entender.
E finalmente aconteceu. Estou limpo. O câncer de Cooper já não me corrói mais as vísceras, nem a alma. Confesso que ainda temo a reincidência, de que, num dia aleatório, ele resolva tentar um novo contato; porque eu quero falar com ele, pra caralho. Mas eu não quero.
Cada obstáculo no seu tempo - por ora, celebro esta ponte que, enfim, arde em chamas. Eu só quero deitar à beira e assistir ela queimar.
Há um motivo para todas as coisas... Ainda que não consigamos "entender" no momento em que elas acontecem.
ResponderExcluirSobre isso, gosto muito de um discurso que o grande Steve Jobs fez para os formandos de Stanford. Faço questão de transcrever o trecho em que ele fala sobre ligar os pontos:
"Você não consegue ligar os pontos olhando pra frente; você só consegue ligá-los olhando pra trás. Então você tem que confiar que os pontos se ligarão algum dia no futuro. Você tem que confiar em algo – seu instinto, destino, vida, carma, o que for. Esta abordagem nunca me desapontou, e fez toda diferença na minha vida.".
Enfim... Gostaria que o que você acabara de escrever - eu eu ler - fosse apenas ficção, ou apenas um poema, ou apenas outra coisa... Mas, sei que não o é.
Só resta-me te desejar boa sorte, e espero que de tudo que isso posso ter te ensinado, o autoconhecimento, amadurecimento, e acreditar em si mesmo - o quanto você é forte - sejam presentes em ti.
Grande abraço!
PS1: Sim, todos os dias entro aqui esperando encontrar algo seu. =)
PS2: Impressionante a sua maestria em transcrever seus pensamentos/sentimentos... Até os mais triste.
Abraço imenso!, bem apertado.
ResponderExcluirNão tenho palavras, mas sinto tuas palavras.
dentrodabolh.blogspot.com
@Well: ótima citação do Steve Jobs, ele realmente sabia das coisas. Obrigado pelas palavras. Sorte boa pra você também!
ResponderExcluir@Dentro da bolha: O pior já passou :) Obrigado!
[j]
E não é assim mesmo ? A gente senta e fica vendo de longe a coisa, queimar, afundar, se perder na neblina. Atitude de gente grande, que sabe a hora de parar o câncer, porque sabe a origem dele e que pode ser controlado, mas não menos dolorido. Enfim, tenho sempre comigo uma frase:
ResponderExcluir"a cada dia que passa, a coisa fica menor"
Fique bem !