Ainda que existisse a Dona Morte, tal como nas tirinhas do Penadinho da Turma da Mônica, e que ela me fitasse os olhos e me anunciasse a sentença; "Vai ser agora. É agora.", ainda assim, não teria preparo pra lidar com a perda. Parece que a morte se origina de um buraco negro que chega e suga aquela vida pra longe de você. Parece até que é o vazio que vem primeiro, o buraco antes que a morte.
Minha cadela já vinha duelando com a velhice havia uns anos. Lembro que tinha muito medo de que ela se fosse durante minha ausência, no tempo em que morei fora. Muito medo de perdê-la sem poder estar perto, dar um último abraço. Ela não só me esperou voltar, como aguentou mais quase três anos. Tão quase!
Pelas 4 da manhã, no dia 03, ela se exauriu do último fôlego no meu quarto, quando o seu coração cansado cedeu. Eu a vi expirar o vapor final de vida; o brilho embaçar nos seus olhos, e as pernas pesarem no corpo. Eu vi quando a Dona Morte chegou. Mas, se naquele momento achei um horror assistir à cena em que minha companheira de 13 anos me era tomada pelo tempo, hoje penso que, em sua dor derradeira, pude lhe dar meu amoroso afago e beijos de gratidão.
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