No dia em que ficou bastante claro que eu algo estava fora de lugar, estávamos na rua bebendo com dois de seus amigos, mas eu já havia sido abandonado. O ângulo do corpo dele na mesa do bar de rua não me reconhecia, só dava vista para os amigos adiante, e o tato do corpo dele era insensível ao toque dos meus dedos na sua coxa pedindo atenção, ou resquício qualquer de respeito.
Saquei meu bloco de notas, disparando palavras em alta velocidade, porém não mais rápido do que minha raiva lavada de decepção percorria e colorava meu sangue de vermelho-paixão. Em poucos minutos, que pareceram multiplicados, soltei verbos em minha defesa, com algumas exclamações indignadas e choros em caixa alta. Tudo ali, no escuro da minha caderneta, pessoal, privada, solitária. Todas as palavras que eu merecia ouvir, as doces junto às ácidas de sermão, que eu mais precisava do que merecia. E uma reflexão resumiu, ali pelo meio do relato inspirado, o teor daquela noite e daqueles dias:
VOCÊ ESTÁ DANÇANDO SOZINHO.
Ele não tá sofrendo porra alguma. Você está. Sozinho.
Eu não devo tentar nada hoje, não assim, frágil, não é justo. Eu estou aqui por mim. Nós amamos a mim. Ele não. Jamais vai amar. O que quer que aconteça, seja lá como se sentir, lembre-se: só há você.
Eu não era o foco, eu precisava sair dali. E saí. Já não importa o quanto tenha doído dançar sozinho.
Ao menos eu dancei.
I'm right over here, why can't you see me, oh
I'm giving it my all, but I'm not the girl you're taking home, oh
I keep dancing on my own, I keep dancing on my own
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