Enquanto o mundo pega fogo lá fora, permita-me voltar a regorgitar a perturbação que eu levo aqui dentro; eu sinto que, para ambos os casos, vamos ficar aqui algum tempo.
Eu tenho um trauma de infância que me persegue até os meados da minha idade de cristo: o da rejeição. Eu fui uma criança que tentava se adequar pra ser aceita, mas que nunca caberia em meio a meu pai e meus irmãos, ou aos colegas da escola. Eu era muito tímido, logo, qualquer tentativa era uma exposição e todo insucesso gerava reclusão. Eu me escondia cada vez mais pra dentro de mim. E é lá dentro que, ainda hoje, existe uma criança cheia do que oferecer.
Anos atrás, eu achei que fosse coisa de Pisciano, sei lá. Isso de se doar demais, de querer abrir o peito e deixar que tomem tudo que lhe for possível dar; mas tudo volta mesmo para a criança que queria pertencer. Nas minhas amizades isso se repete ainda hoje, mas é principalmente nas relações com outros homens que eu sempre me vejo caindo no mesmo comportamento. Há tempos eu não me atrevia a ter nada com ninguém, porque sabia que era preciso resolver primeiro o que há entre mim e eu. Mas neste ano ousei me abrir um pouco para oportunidade ou outra, e foram duas. Dois interesses e duas rejeições, uma em fevereiro e outra mais recente. Veja, eu não sou ingênuo nem é minha síndrome de vítima falando aqui, eu entendo que rejeição faz parte do cotidiano coletivo. Eu mesmo apenas busco a motivação, mas sempre me perco tentando entender, dançando sozinho.
A parte-de-mim-com-boa-autoestima insiste em crer que eu sou uma pessoa de valor, e é ela quem fica arrasada, sem manejo da realidade, quando o cara apenas desliga ou perde o interesse, nenhum sinal aparente de ruptura. Meu deus, é até ridículo eu vir escrever isso hoje, em 2020, a essa altura, o mundo numa zona como está – e, no entanto, cá estamos. A minha criança interna sofre tanto, é avassalador ser descartado e resignificado a nada, tudo de novo. E a tal parte de mim quer acreditar que não sou eu, que "é a loucura dos outros, que cada um tem a sua, mesmo, e paciência, e fica tranquilo e cuida do teu e bola pra frente". O que ecoa mesmo, por anos em série, é o pranto abafado do menino, afundado, encerrado, reduzido, "o que que eu fiz? O que que eu tenho que fazer? Por quê que é tão fácil me esquecer?"
Não aguento mais ver ele se esconder! Demora tanto pra ele sair de lá...
Só me fala?!
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