Quando dei à luz palavras –assim que brotavam as circustâncias–, eu não podia ver as rotas positivas que tracei ao riscá-las com 0s e 1s no papel simbólico desta tela. Fato é, na ocasião em que sentia o que escrevi, eu só podia ver o buraco – escrever é o que me permitia olhar pra cima e adiante. Mas hoje eu estou empacado e aqui, parece, quero ficar. Vejo minhas reflexões e as saídas saudáveis, e as rebato todas. Hoje eu não consigo!
Fui dormir com a cabeça fervilhando, pesada de repúdio, cheia de gritos emburrados. É um daqueles momentos em que a mente se recusa a aceitar que a vida sabe o que faz e aonde nos conduz. Tenho repetido isso nos últimos anos, vez e de novo, como mantra. Mas hoje não, não é desses dias. Hoje é de refutar o agora, e o que eu tenho, e onde estou e quem me tornei e o que alcancei e o que exerci, e o meu valor na história de outros. É tudo idiotice, e como eu posso, diabos, me amar, se estou preso neste lugar em que odeio ser quem eu não queria ser? Neste lugar em que eu tento compreender porquê a vida me trouxe acá, e não acho sentido. Outro alguém podia ter tomado meu lugar, nesse papel, dessa peça, desse teatro, outro fulano podia ter sido a ajuda e a influência e trazido riso e ouvido e ombro e palavras e afeto e zelo a todos esses com quem cruzei. Enquanto eu poderia estar onde eu gostaria de ter estado, fazendo o que de fato planejava ter feito, e as peças estariam ajustadamente acopladas. Mas agora que o mundo mudou, é logo este lugar que parece permanente, o cenário final.
Esta carta não era pra ser dessas de, no final, brilhar luz e fazer olhar para o alto, mostrar saída do buraco. Era mesmo pra ser um chilique, envolto no problema, aqui o meu escuro. Pois já não sei dizer ao certo, que me doem os olhos –sabe, é essa luz que aflige os bastonetes, e esse choro que salga as córneas–, mas, parece que talvez tenha falhado.
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