Foi cinco anos atrás, neste agosto, que comecei a me adaptar a uma relação mais positiva com o meu corpo, o que envolveria prática de exercícios físicos e melhor alimentação para uma figura mais encorpada e bem disposta, e ainda o exercício mental, para fortalecer o tal do amor próprio. Você lembra como foi, o início de tudo, tá aqui escrito e guardado. E tomei gosto pela coisa, cuidar de mim virou um hábito fundamental para a vida adulta pós-30. Mesmo que nunca tenha conseguido o corpo idealizado, porque o metabolismo insiste em correr em vez de caminhar, o bem-estar era inegável.
A clausura que a pandemia normalizou me desafiou a continuar os esforços por conta própria, em casa – e que não vacile a disciplina, por tudo que é sagrado! Mas não deu: os ânimos se definharam ao longo dos primeiros meses de isolamento, e o cuidado virou uma tarefa. Danoso quando vira um 'item a fazer', que aí a paixão já se foi, e sem paixão só restam os números contando suas repetições por você. De início, eu tive dificuldade para aceitar tudo que eu sentia: o não querer praticar, a insatisfação com os resultados da pouca frequência, e a dificuldade de retomar ritmo, força, habilidade, flexibilidade. Parecia ter abandonado o pobre do corpo à sua sorte, por momentos faltando o carinho para com o próprio. Me assustou um pouco, e me desmontou um monte.
Praticando alguns 20 minutos de yoga a cada sessão, tentava me convencer de continuar. Fazendo esta aula aqui, do Flo (por sinal, uma excelente prática), fui lembrado, um par de vezes, da importância de aceitar – a si, ao agora – o que é, como é. Há momentos no yoga, como a postura da criança, que servem para o reconforto, para o aconchego e equilíbrio. "Lembre-se que a prática se trata, de fato, da respiração, e estamos todos fazendo nosso melhor, nos movendo por entre estas posturas", diz o instrutor. "Abra mão de querer controlar qualquer coisa." Conceitos que eu já conhecia com intimidade, e às vezes preciso ouvir mais uma vez, como se fosse novidade. É difícil, em observar o corpo, reconhecer o tanto que perdi,
mas também cabe à percepção própria mudar o foco e notar que aonde já se
foi, pode-se novamente chegar. Ora, mesmo o além ainda é possível. O corpo lembra.
Quem não lembra é a cabeça – mas, às vezes, ela lembra. Hoje tem aí uns dois meses que não tenho praticado nada. Quero cultivar a vontade de volta, o genuíno; enquanto isso, cuido da cabeça, mexendo em pequenos hábitos. Sem me cobrar, de nenhuma frente. Escutando ao que eu sinto, aceitando, manejando. Que também é cuidado.
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