domingo, 2 de agosto de 2020

fisio _ terapia

Neste ano, como em poucos outros, passei o Dia das Mães longe da minha, enquanto quarentenava na casa do meu amigo André. Nossos laços se afrouxaram, ih, bem lá atrás, mas ainda há alguma relação, e certamente respeito e admiração. Sempre tem um abraço pra esse dia, que desta vez teve de ser virtual. Aqui em casa a gente vai mais afundo com as palavras escritas em vez de ditas. Ao receber minha homenagem pelo seu dia e labuta do grande papel de progenitora e mantenedora e apoiadora, minha mãe respondeu com carinho, e uma reação que eu não esperava, mas cujo esforço sempre perpassou nossa relação, alí, implícito. Ela me confessou:
Oi filho que lindo! Amei sua msg 😍 obg eu te amo e te respeito e queria ser uma mãe melhor, mas não sei. Mas amo vc do meu jeito.
E fiquei tocado quando, aqui, vi como temos em comum. Porque dias antes eu vinha pensando no mesmo anseio, de ser um 'eu' melhor. Que, às vezes, eu percebo que, com todo meu esforço de melhorar, de crescer e amadurecer e aprender com os erros e me aprimorar a uma versão elevada de mim, há horas em que eu pareço dar com a cara no muro num beco sem saída. Parece que bato ali e não tem mais pra onde mudar, e eu fico apenas segurando o desejo, como um membro fraturado, inválido. Parece. Por vezes, refletindo sobre essa inquietude e insucesso, reparo no quanto muito desse comportamente torto vem de berço, e como a gente se forma e aprende a ser. E sim, eu tento imaginar a vida da minha mãe pra trás, a infância e criação, os tempos outros, as coisas difíceis, meu avô era um escroto, minha avó era rígida porque precisava ser com os quinze filhos, e de certo também porque assim aprendeu com sua mãe antes dela, e assim voltam os ciclos mais atrás. No fundo, a gente faz o que pode com o que tem e com o que é.

Ao menos, a quarentena ensina a ser mais complacente. Mas, ainda há muito que mudar que está imobilizado com gesso, de camadas duras dos dias de outrora. Eu ainda quero poder romper o gesso em torno de certas condutas, e tocar a pele, mexer a carne, articular as estruturas. Quero acreditar que está, e não é, e que existe, sim, reparo.



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