terça-feira, 8 de agosto de 2023

quinze, ondeante

Num dia de junho, de férias na minha querida Natal, fui me deitar ao sol e banhar a pele de luz e calor nas areias da praia de Ponta Negra, não colado ao pé do Morro do Careca, como de costume - dessa vez, mais avante, para lá da muvuca praieira.

Às tantas, sentei meu coco gelado na mesa, nós dois gotejando suor; enfiei meus pertences na bolsa e, quando fiz que ia guardar meus óculos de sol, hesitei e tornei a cobrir os olhos, protegendo do cobre solar de fim de tarde. De sunga e com as lentes na cara, rumei àquele imenso corpo de água inquieto, atrás de conforto.

Bastou meia-dúzia de ondas me vir de encontro, que uma braçada d'água me nocauteou e, quando me recompus, meus óculos já não mais me guardavam as vistas. É, o mar é um bicho impiedoso, não houve negociação: por mais que eu apalpasse seu fundo arenoso com lances de polvo, ele não devolveria meu acessório - e ainda eram óculos de grau, mas o mar com isso pouco se importa.

A plenitude que antecede a perda.

 

Eu sabia que arriscava perdê-los, vislumbrei o sucesso e a falha no meu breve titubeio, e assim mesmo encarei o oceano. Ali, diante do extravio, mirei no balançar bravio da água, e constatei que o que é, é. Senti muito, mergulhei, deixei que uma onda - irmã daquela - me engolisse por um instante, e com ela o mar lavou tudo: o instante, a esperança, a barganha, a perda.

Saltei afora da sua espuma e vi que o mar me abraçava, o sol me acalentava, a água me refrescava, o sal me amparava, a areia me sustentava, e as ondas me chacoalhavam a toda direção, trazendo mudança, ímpeto, estâmina, movimento. Evolução. Logo eu, sempre tão relutante em abrir a mão e largar? Ora, e quem é capaz de segurar o mar? Deixa a onda levar!

E assim como viver, se nos é forçado a mudar o olhar, tão rápido ele se adapta a ver que o que é, é. Posso encarar o mar sem medo de perder ou falhar, porque, no fim, o mar não me tiram.

E hoje já faz quinze anos que escrevo aqui, e conto de ondas que atravessei, mares que mergulhei; tombos, respiros e regozijo. Eita, quantas águas já rolaram! Por vezes eu nado, por outras eu nada.


Mas, do mar ninguém me tira.

Ano 1 . Ano 2 . Ano 3

〰️ Ano 9 . Ano 10 . Ano 11 . Ano 12 . Ano 13 . Ano 14

   

Feliz 15 anos! 🌊


Nenhum comentário:

Postar um comentário


© 2008-2024 joe, w. bridges [ from joe ]