Num dia de junho, de férias na minha querida Natal, fui me deitar ao sol e banhar a pele de luz e calor nas areias da praia de Ponta Negra, não colado ao pé do Morro do Careca, como de costume - dessa vez, mais avante, para lá da muvuca praieira.
Às tantas, sentei meu coco gelado na mesa, nós dois gotejando suor; enfiei meus pertences na bolsa e, quando fiz que ia guardar meus óculos de sol, hesitei e tornei a cobrir os olhos, protegendo do cobre solar de fim de tarde. De sunga e com as lentes na cara, rumei àquele imenso corpo de água inquieto, atrás de conforto.
Bastou meia-dúzia de ondas me vir de encontro, que uma braçada d'água me nocauteou e, quando me recompus, meus óculos já não mais me guardavam as vistas. É, o mar é um bicho impiedoso, não houve negociação: por mais que eu apalpasse seu fundo arenoso com lances de polvo, ele não devolveria meu acessório - e ainda eram óculos de grau, mas o mar com isso pouco se importa.
A plenitude que antecede a perda. |
Eu sabia que arriscava perdê-los, vislumbrei o sucesso e a falha no meu breve titubeio, e assim mesmo encarei o oceano. Ali, diante do extravio, mirei no balançar bravio da água, e constatei que o que é, é. Senti muito, mergulhei, deixei que uma onda - irmã daquela - me engolisse por um instante, e com ela o mar lavou tudo: o instante, a esperança, a barganha, a perda.
Saltei afora da sua espuma e vi que o mar me abraçava, o sol me acalentava, a água me refrescava, o sal me amparava, a areia me sustentava, e as ondas me chacoalhavam a toda direção, trazendo mudança, ímpeto, estâmina, movimento. Evolução. Logo eu, sempre tão relutante em abrir a mão e largar? Ora, e quem é capaz de segurar o mar? Deixa a onda levar!
E assim como viver, se nos é forçado a mudar o olhar, tão rápido ele se adapta a ver que o que é, é. Posso encarar o mar sem medo de perder ou falhar, porque, no fim, o mar não me tiram.
E hoje já faz quinze anos que escrevo aqui, e conto de ondas que atravessei, mares que mergulhei; tombos, respiros e regozijo. Eita, quantas águas já rolaram! Por vezes eu nado, por outras eu nada.
Mas, do mar ninguém me tira.
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Feliz 15 anos! 🌊
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